terça-feira, 28 de agosto de 2007

não houve chuva.

veja você como são as coisas... mais uma vez ela havia pensado nele naquela mesmo dia, enquanto fantasiava sobre um olhar que recebeu de outro.

ela não tinha nada que estar ali naquele momento. devia estar na sala, mas ela não aguentou a aula, saiu para se esticar um pouco no corredor... pra variar não estava entendendo nadinha do que aquele professor dizia. andou meio perdida pelo corredor, entrou no banheiro só pra se olhar no espelho e quando estava voltando pra sala sentiu vontade de mascar chicletes, teve um pouco de preguiça, lembrou que quase não tinha dinheiro nos bolsos da calça. estava já desistindo quando o elevador se abriu na sua frente. ela entrou, antes que a preguiça a fizesse mudar de ideia.

saiu do elevador tirando as moedas do bolso. foi até o café e comprou dois chicletes. já estava voltando pro elevador quando o viu, mais uma vez de longe. dessa vez a primeira frase que veio a sua cabeça foi "sua idiota, por que não deixou o cabelo solto?", e os soltou num movimento rápido enquanto andava em direção a ele, dessa vez decidida, abrindo um sorriso sincero. assim que a viu ele retribuiu o sorriso, quando chegou perto ele lhe beijou as bochechas. ela, por alguma razão, não esperava que ele a beijasse.

mas uma vez foi ele que puxou assunto, perguntou de novo se ela já estava gazeando aula, ela negou, disse que tinha tido uma vontade de chupar chiclete, ele riu. perguntou pelas novidades, se estava estagiando... ela disse que não e brincou com ele, pedindo que ele arranjasse pra ela o tal estagio com o pai dele. ele contou que o pai estava doente na casa da família em outro estado, e que por ora estava morando só com o irmão. ela perguntou pelo irmão dele, quantos anos tinha, o que queria fazer depois que acabasse o colégio... falaram mais algumas besteiras, coisas comuns.
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ela perguntou o que ele ia fazer, ele a convidou para tomar um café com ele. ela negou, disse que tinha deixado o dinheiro na sala e que precisava voltar para a aula. se despediram e se foram, cada um pro seu lado.
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dessa vez não houve gentilezas demais, não houve promessas de "vamos marcar pra sair", nem chuva, nem cara de perdida. só um leve ar de riso no rosto dela e olhares pelo canto do olho, procurando por ele, quando ela voltou a descer.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

to feel

foi estranho, assim de súbito. acho que foi como ser um cego convivendo com pessoas perfeitamente normais. tinha os outros 4 sentidos extremamente aguçados, como se fosse pra compensar o sentido que faltava. mas eu via, a minha visão tava lá.

a visão não estava aguçada. acho que por que era o único sentido que consegui se realizar. o observava, acompanhava com os olhos seu perfil, assistia ele na penumbra, atentando pros detalhes, apesar de já conhece-los.

olfato, paladar, audição, tato, todo morriam de inveja. todos super aguçados, por alguma razão que eu não sei dizer ao certo. claro que tinha tudo a ver com ele. foi ele quem provocou tudo isso, foi ele quem me deixou assim. isso eu sei, mas não sei como. ele não fez nada demais, não foi diferente de outras vezes.

teria sido igual as outras vezes se não fosse pela vontade que me deu de o sentir. queria sentir seu cheiro, o gosto da sua boca, queria tocar seus braços, as costas, o peito, o cabelo, os lábios, ouvir sua voz sussurrando qualquer bobagem no meu ouvido..

consegui todos eles, de certa forma, mas nenhum na intensidade que eu queria. desejei beijos intermináveis, que a gente não conseguisse se larga e todo o resto. mas ficou só na vontade. o tato, o olfato, o paladar e a audição tiveram que se controlar. só a visão pode se realizar. observei seu sorriso, olhei demoradamente para aqueles olhos castanhos, pras marcas do rosto, os sinais. e foi só.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

encontros e desencontros

Ainda naquela tarde tinha pensado nele. Lembrou que dentro de algum dias ia fazer 3 ou 4 anos que passaram a noite juntos pela (primeira e) ultima vez, tentou lembrar quanto tempo fazia que não o via, mas não conseguiu.

Estava indo fazer alguma coisa sem importância no intervalo quando o viu, assim, meio de longe, numa roda de amigos tendo uma conversa animada com uma colega. Teve vontade de ir até lá, "só pra dar um oi" pensou, como se inventasse desculpas pra si mesma. Já ia ao seu encontro quando mudou de idéia.

Mas era tarde, ele já tinha visto ela. Sorriu daquele jeito de sempre, fazendo em seguida uma cara de confuso. Sem graça ela retribuiu o sorriso e deu um xauzinho pra ele de onde estava. Ele então caminhou ao encontro dela, ainda com a aquela cara de quem não estava entendendo, e a cumprimentou, deu um beijo no rosto dela e perguntou o que tinha sido aquilo. Com raiva de si mesma, pensando em como era idiota, tentou juntar umas palavras pra lhe explicar por que quase não foi falar com ele:

- Achei chato atrapalhar o papo.

Ele disse que era besteira dela, que ela não o atrapalhava. Ela sorriu ainda mais sem graça e ficou olhando pra ele, emudecida. Ele quebrou o silencio, quis saber como ela estava, o quê estava fazendo, porque já estava fugindo da aula... Esse tipo de coisa. Ficaram nisso por um tempo. Ele disse para marcarem pra sair, reunir a turma. Disse que a regra era que se ela conseguisse o tal emprego ia ter que sustentar os amigos, ela riu com ele, tentou barganhar...

Ele disse para eles manterem o contato, pra ela não desaparecer. Ela disse que quem desaparecia era ele. Riram juntos. Ele virou, procurou o grupo de amigos com olhos, disse xau mais uma vez e saiu. Ela ficou olhando ele ir embora, notou que começava a cair uma chuva fraca. Ela riu, dentro dela também chovia, chovia forte. Abriu o guarda chuva e continuo andando, tentando lembrar pra onde estava indo quando o encontrou. É, ele sempre a deixava perdida.